segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Sem sono

      Através de uma comparação grosseira, imaginei minha mãe com a minha idade... ela teria uma filha com 8 anos, outra com 7 e um garoto com 6. Estaria morando na Rua Godofredo Machado, nº 57, bairro Roosevelt, Uberlandia/MG. Ela estaria tentando um novo casamento, e deste, já teria duas filhas.
      O que torna grosseira esta comparação, é o fato de querer comparar comigo: três filhos adolescentes, mas também tentando um novo relacionamento. A grosseria está mais no parceiro em questão do que com a situação. Minha mãe confiava nele, devia gostar dele... mas imagino o quanto foi doloroso para ela saber que ele a havia traído, não com aquelas mulheres de sempre, mas com suas filhas...
      Quando se é criança, não se presta atenção ao redor. Você só vive, e sente, e vive de novo. Os sentimentos alheios não são perceptíveis. O que ela sentiu naquela situação foi abafado pelo meu medo. Fiquei cega pela situação, e nunca pude olhar para aquela mulher como ela merecia ser vista.
      Quanto mais me afasto dela pelo tempo, mais a compreendo. E hoje me peguei pensando, que é bem possível que, aquela ida de seis anos para um colégio interno em Sergipe, fosse muito mais que falta de recursos numa casa onde tudo falta. Talvez a dor que sentia ao nos olhar fosse forte demais, pois eram  muitos sentimentos entrelaçados, difíceis de se entender... mas hoje... queria poder ter visto isso a tempo.
      A cada nova situação que acontece comigo, comparo com ela... é inevitável. Fico tentando entender cada gesto dela, cada decisão, cada dor... e acabo me perguntando, como aquela mesma criança de sempre: "onde você está?". Logo em seguida, digo que não é justo, e rezo para que exista uma lei na natureza onde as pessoas que morrem possam ver ou ouvir quem ficou... e se quiserem, viver os bons momentos delas.

      Mas isso foi apenas mais uma lembrança. É bom escrever, pois essas sensações vem e vão...e eu quero controlar um pouco esse sentimento. São 01:09 da manhã, e acho que agora conseguirei dormir, pois precisava escrever isso.... por ela.