domingo, 21 de agosto de 2016

Parte 2

PARTE 2

        Resolvi dividir esse registro de memórias em partes, pois não sei como organizar, tendo em vista que irei me aproveitar das lembranças que vão surgindo, fugindo assim da ordem cronológica dos fatos. Nesta segunda parte, fui motivada a escrever por conta de uma aluna, que me informou esta semana que se afastaria da escola por causa de sua gravidez que acabara de ter descoberto. Não lhe aconselhei a continuar, já que estamos chegando ao final do ano, pois sei bem que essas decisões dependem da força que cada um tem.  
         Terminar o Ensino Médio não foi fácil. Não digo isso por causa das disciplinas, pois sempre gostei de conseguir boas notas, mas pelo pesadelo de não poder fazer planos. Sempre planejo tudo que faço. Tem coisas que dependem do meu esforço somente, e outras, como o vestibular, da sorte. Ao me deparar com o fim do ano, meus planos tiveram que esperar o maldito/bendito resultado. E isso me deixava extremamente nervosa: passei a tratar mal as pessoas, fiquei mais reclusa, impaciente e chorava constantemente. Meus filhos me irritavam até por perguntar algo banal e meu companheiro por não perguntar. Parecia que somente eu via a importância do momento.
        Fiz a prova. Desde então, meu coração passou a viver na boca. Opção: Licenciatura em Química, na UEPB em Campina Grande. Problema: eu morava em Solânea. Mas isso eu pensaria depois. Também estava inscrita no PSS na Federal para Licenciatura em alguma coisa, mas era apenas para cumprir tabela. A família do meu companheiro apoiava que eu estudasse em Bananeiras, caso passasse no PSS, pois era pertinho de casa, e de onde eu morava, chegava no Campus até a pé (que seria mais viável naquele momento). Saiu o resultado da UEPB...
         Saí antes das sete da manhã do dia anunciado para o resultado, com o semblante preocupado e esperançoso de quem não dormiu na noite anterior. Estava em busca de um jornal impresso, pois era o veículo mais utilizado desta época para os resultados. Cheguei em três pontos de venda, e a cada um que chegava, me informavam que ainda não receberam os jornais... quando dava uma volta no quarteirão, recebia a notícia que que foram vendidos todos!
         Após peregrinar sem sucesso, descobri que uma livraria ali perto fazia buscas desse tipo na tal da internet! Ao chegar no lugar, aguardei eternos cinco minutos para descobrir que o resultado só estaria disponível a partir das dez... Fui para casa cansada, desanimada, chorosa... mas pedindo aos céus que adiantassem o tempo, pois minha vida se esvaía do meu corpo a cada suspiro angustiado... senti taquicardia, a vista escureceu por duas vezes, mas devia ser a fome, velha conhecida minha.
         Deitei na cama e chorei. A pessoa que me acompanhava naquele momento, se dispôs a buscar o resultado, vendo em mim o meu próprio resto.Ele saiu, e eu fiquei um pouco na cama. Em seguida senti a esperança crescendo de novo, e meu corpo respondeu. Levantei e fiquei na sala, arrependida por não estar na rua, buscando meus planos.
         Minha vizinha, e integrante da família do companheiro, veio na minha casa me chamando. " O que ela quer?" pensei já pensando em como despistá-la. Pelo semblante dela era algo bom...entendi! Era meu resultado! A pessoa que saiu para buscá-lo ligou para ela para que a notícia chegasse logo! "Você passou, Sandra, nos primeiros lugares!"
Minha vida voltou quente às minhas veias!  Chorei toda a dor de tudo que passei... agradeci até a quem não merecia... mas que importa? A vida voltou!
         Novos planos começaram a ser traçados. Agora posso continuar lutando pela melhoria da minha vida e ser um exemplo para meus filhos.
         E minha aluna? Não... ela não tem força para passar por isso, e muito menos pelo que veio depois na faculdade. A deixei ir, lembrando da minha luta. Espero que ela tenha feito uma boa escolha, pois o caminho mais fácil não resolve nada e muitas vezes, só adia o problema.