quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Sutiã



      Voltando da faculdade hoje (estou na metade do curso de Veterinária), me deparei com um pedaço de metal - que existe no sutiã para abotoadura - furando minhas costas, durante a viagem. Me perguntei por quê ainda não comprei um sutiã novo, já que apenas um dos três que tenho ou não me machuca ou não está remendado. Daí as lembranças reapareceram...
      Lembrei de ter umas vontades que hoje não estou valorizando tanto. Por várias vezes, eu passava -sozinha ou com as crianças- em frente de alguma lanchonete e viajava no pensamento: "Ah, como deve ser bom, sentar ali, pedir comidas, bebidas, sem tanta preocupação se o dinheiro dá para comprar... apenas pedir e comer... e só no final, perguntar "quanto deu?"...".
      Ainda trabalhava na padaria quando "surtei" e resolvi acompanhar os colegas de trabalho, no dia do pagamento, para uma cervejinha... foi a primeira vez que fiz algo assim. Sentei lá e pedi uma(sabia quanto custava), e foi a primeira vez que senti o gosto de uma dessas. A sensação de parecer uma pessoa normal foi tão boa! Mas tive que sair logo, pois eu era uma garota casada há quase um ano e além de trabalhar das 5h da manhã e sair depois das 19h, eu só tinha o direito de voltar correndo para casa.
     Assim que cheguei, tive uma briga com o então "companheiro". 
     Naquela época eu achava normal não ter nada, nem mesmo direitos. Depois de tanto tempo, ainda me vejo com aquela mentalidade... não compro quase nada para mim. Muita coisa já melhorou, mas aquela menina ainda custa a crescer... parece que o que vivi na infância e na adolescência determinaram quem sou.
     Mas por ter percebido esse pequeno detalhe, por meio destas lembranças, fico feliz em poder mudar e melhorar por dentro também, porque por fora, já sou uma mulher bonita, saudável inteligente e independente... só resta a garotinha que ainda habita em mim também acredite nisso.


Vou comprar dois sutiãs. 

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Sem sono

      Através de uma comparação grosseira, imaginei minha mãe com a minha idade... ela teria uma filha com 8 anos, outra com 7 e um garoto com 6. Estaria morando na Rua Godofredo Machado, nº 57, bairro Roosevelt, Uberlandia/MG. Ela estaria tentando um novo casamento, e deste, já teria duas filhas.
      O que torna grosseira esta comparação, é o fato de querer comparar comigo: três filhos adolescentes, mas também tentando um novo relacionamento. A grosseria está mais no parceiro em questão do que com a situação. Minha mãe confiava nele, devia gostar dele... mas imagino o quanto foi doloroso para ela saber que ele a havia traído, não com aquelas mulheres de sempre, mas com suas filhas...
      Quando se é criança, não se presta atenção ao redor. Você só vive, e sente, e vive de novo. Os sentimentos alheios não são perceptíveis. O que ela sentiu naquela situação foi abafado pelo meu medo. Fiquei cega pela situação, e nunca pude olhar para aquela mulher como ela merecia ser vista.
      Quanto mais me afasto dela pelo tempo, mais a compreendo. E hoje me peguei pensando, que é bem possível que, aquela ida de seis anos para um colégio interno em Sergipe, fosse muito mais que falta de recursos numa casa onde tudo falta. Talvez a dor que sentia ao nos olhar fosse forte demais, pois eram  muitos sentimentos entrelaçados, difíceis de se entender... mas hoje... queria poder ter visto isso a tempo.
      A cada nova situação que acontece comigo, comparo com ela... é inevitável. Fico tentando entender cada gesto dela, cada decisão, cada dor... e acabo me perguntando, como aquela mesma criança de sempre: "onde você está?". Logo em seguida, digo que não é justo, e rezo para que exista uma lei na natureza onde as pessoas que morrem possam ver ou ouvir quem ficou... e se quiserem, viver os bons momentos delas.

      Mas isso foi apenas mais uma lembrança. É bom escrever, pois essas sensações vem e vão...e eu quero controlar um pouco esse sentimento. São 01:09 da manhã, e acho que agora conseguirei dormir, pois precisava escrever isso.... por ela.